Várias religiões consideram um início e um
fim para a vida. O Apocalipse é um dos relatos mais conhecidos entre os povos
que seguem a Bíblia. Este livro, o mais lido de todos os tempos, mostra o
relato sobre o fim dos tempos, com revelações e profecias que foram registradas
há mais de 2000 anos. Estes registros precisam de muitas interpretações porque
contam com muitas metáforas. Aqui vou tentar apresentar um pequeno resumo que está no meu livro
"2012, O ano das profecias".
O livro do Apocalipse, que foi escrito cerca
de 95 d.C., quando João estava na ilha de Patmos, é uma revelação de Jesus
feita ao apóstolo João envolvendo as igrejas do primeiro século, o destino do
Império Romano e o retorno de Jesus. Este livro cita que, na hora certa, Deus
julgará o mundo e os infiéis sofrerão uma destruição total e os fiéis que
ficarem receberão a coroa da vida.
Na época que o Apocalipse foi
escrito, o imperador Domiciano, com o objetivo de ser cultuado pelo povo, se
declarou “Senhor e Deus” e passou a exigir respeito ao novo título. Os cristãos
fiéis recusaram essa ordem e sofreram uma intensa perseguição pelo Império
Romano, portanto, o Apocalipse foi escrito em um momento muito difícil, onde
perseguições aos cristãos eram comuns. Assim, contém muito simbolismo e foi
organizado de forma alegórica.
Segundo aqueles que acreditam no Apocalipse
bíblico, este é o livro do destino da humanidade. Existem selos que ao serem
abertos provocam novas visões: o primeiro selo apresenta um cavalo branco
representando a conquista; o segundo selo apresenta um cavalo vermelho que
representa as guerras; o terceiro selo apresenta um cavalo preto que representa
a fome; o quarto selo apresenta um cavalo amarelo que representa a morte; no
quinto selo, os mártires pedem vingança e Deus pede paciência; no sexto selo
surge a previsão do dia em que Deus mostrará toda a sua ira contra Roma. É
importante registrar que os fiéis salvos neste dia poderão ser arrebatados e
estarão com Deus. O sétimo e último selo começa com um silêncio de meia hora e
marca a transição para o toque de sete trombetas, iniciando o juízo parcial
contra o Império Romano, aguardando o arrependimento e a salvação.
Não se preocupem. Se o Apocalipse
descrito na Bíblia acontecer, você pode ser salvo. Existem aqueles que
acreditam no arrebatamento (Leia o artigo). O arrebatamento é
uma profecia que diz que quando se aproximar o Apocalipse, crentes poderão
desaparecer subitamente, portanto, onde estiverem, desaparecerão. Carros
ficarão desgovernados e aviões cairão. Será uma grande confusão. Os que acreditam neste arrebatamento
dizem que será o período mais turbulento da nossa história e será uma forma de
salvar alguns fiéis que se elevarão no ar, ficando imunes às dores e aos
sofrimentos que afetarão aqueles que ficarem na Terra, portanto, será um evento
sobrenatural orquestrado por um ser supremo, envolvendo, estritamente, a fé.
Na Bíblia, tanto no Velho Testamento como no
Novo Testamento, existem previsões para o arrebatamento. Estudiosos acreditam
que o apóstolo Paulo prometeu este milagre aos primeiros cristão “Depois nós, os que ficarmos vivos, seremos
arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e
assim estaremos sempre com o Senhor (1 Tessalonicenses 4:17)”. As provas
bíblicas deste arrebatamento são poucas e sem sustentação, entretanto, alguns
acham que são convincentes. Em Apocalipse (3:10), encontramos o texto “Porquanto guardaste a palavra da minha
perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o
mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a Terra”. Este texto
aborda um assunto crucial, porque não fica claro se os “virtuosos” serão
arrebatados antes ou depois do caos na Terra.
Existem outras citações em seitas
diferentes. No islamismo algumas pessoas serão protegidas por Maomé e outras
serão mortas no final do mundo. Este fato não é de se estranhar, porque o islã
possui suas bases em um contexto cristão. Maomé conhecia muito bem o
cristianismo. Até os índios hopi americanos possuem passagens que podem ser
ligadas a um tipo de arrebatamento, com um dia de purificação, quando serão
levados para outros planetas em navios sem asas.
Segundo alguns ditos “evangélicos”,
somente cerca de 144 mil pessoas serão arrebatadas, mas na Bíblia podemos
encontrar a citação que João declara ter visto uma multidão que ele não podia
contar, representando um número infinito de pessoas. Eu acho 144 mil pouco. Não
esqueçam que alguns mortos serão arrebatados também, porque é uma forma de
justificar a espera por tanto tempo. Posso morrer antes do arrebatamento, e
daí? Lógico! Aguardo minha recompensa no túmulo, justificando a minha devoção à
Igreja. O interessante é que alguns crentes vendo que esse número é pequeno,
agora dizem que é uma metáfora. Quando é de interesse, as passagens bíblicas se
tornam metáforas, mas outras que não podem ser testadas continuam mantendo os
dogmas e paradigmas da religião até que, com o desenvolvimento de novas
tecnologias, se tornem absurdas e passem a serem metáforas.
Voltando ao livro do Apocalipse, após os sete
selos, começam as calamidades. Primeiramente, ocorrem quedas de granizos, fogo
e sangue que destroem um terço da Terra. Outro terço da Terra, o mar, é
destruído por ação de uma montanha de chamas, matando os peixes e destruindo as
embarcações. Em seguida, uma estrela ardente (absinto) cai sobre a terça parte
dos rios e das fontes das águas e a escuridão cobre a terça parte do Sol, da
Lua e das estrelas. João teria o prazer e a angústia de anunciar a destruição
total de Roma, com a proteção total da Igreja, evidenciando a sua vitória, com
a destruição dos perversos e a salvação dos santos.
Chegou o momento da guerra espiritual,
segregando aqueles que estão do lado “do bem” e os que estão do lado “do mal”.
Do lado “do bem” podemos ter a mulher grávida, que pode estar representando a
Igreja ou Israel; o filho varão ou cordeiro, que pode estar representando
Jesus; Miguel e seus anjos, representando os anjos de Deus e os 144 mil que
foram salvos. Do lado “do mal” estão os anjos do dragão, representando Satanás;
a primeira besta (do mar), representando o imperador romano, com o número 666;
o dragão, representando o Satanás; a segunda besta (da Terra), representando a
religião do Império Romano e Roma. Finalmente a batalha final chama-se
Armagedom e trata-se de uma batalha que ocorre no interior do coração humano
que fica em dúvida se deve seguir o bem ou o mal.
Uma característica
interessante no Apocalipse é o aparecimento de um anticristo. Um homem
totalmente possuído pelo demônio, com todo o poder de Lúcifer, que já está em
ação há muitos anos, se manifestará publicamente fazendo uma declaração para
toda a humanidade. O anticristo se autodenominará o próprio Deus, descido à
Terra para a salvação de todos os homens e a união de todas as religiões.
Dizendo ele ser o próprio cristo, autorizará as mais escabrosas mudanças
doutrinais dentro da Igreja Católica. A arma mais persuasiva de que o
anticristo se servirá para enganar e convencer a humanidade, será a de fazer
grandes milagres aos olhos de todos e através da televisão, levando assim
muitos a crer que ele é o próprio Deus descido à Terra. Eu acho que esse
anticristo está se manifestando (Leia
o artigo).
No “juízo final”, os livros serão abertos e
todos os homens serão julgados de acordo com o que eles fizeram em vida.
Satanás será jogado no inferno com seus aliados, sem qualquer oportunidade de
salvação. Os salvos receberão a vida eterna no Céu, pelos séculos dos séculos.
Como podemos observar, no início do livro do
Apocalipse apresenta um panorama geral do conflito entre a Igreja e Roma, da
certeza da proteção divina e prediz a derrota de Roma como um castigo do Céu,
finalizando com a atenção nos pecados e mostra como será completa a destruição.
É interessante notar como os religiosos
radicais aceitam estas passagens bíblicas como se fossem puras verdades,
entretanto, nenhum dos nanuscritos originais do Novo Testamento e do Apocalipse
existe mais. Segundo Sylvia Browne no livro “Fim dos Tempos”, a grande parte do que sabemos sobre o Novo
Testamento se origina de manuscritos gregos do século II ao VIII, que foram
repetidamente traduzidos e dos quais teólogos guardaram na memória o que haviam
lido ou lhes havia sido contado sobre o verdadeiro texto do Novo Testamento. O
Apocalipse aqui discutido foi tão corrigido e “remendado” que fica difícil
cogitar a possibilidade de interpretá-lo literalmente, sem o original de João,
se foi ele mesmo o autor. (Leia "Quem
escreveu a Bíblia?)
Ainda segundo Browne, alguns autores consideram
o Apocalipse um livro político ou foram sonhos atormentados passados para o
papel. Até a “besta” do Apocalipse é uma referência a Nero, cujo nome na forma
hebraica, utilizando o método de interpretação destas pelo seu valor numérico,
é traduzido como 666 que simboliza o mal.
Muito semelhante
ao Apocalipse contido na Bíblia, os escandinavos possuem o Ragnarok. O fim do
mundo chegaria através de uma batalha entre deuses, os humanos e todas as
criaturas existentes, culminando no fim do Universo. A Terra seria queimada e,
por fim, engolida pelo oceano, porém depois ressurgiria e começaria um novo
ciclo com novos habitantes.
Quando li pela
primeira vez a descrição do “juízo final” contidas na mitologia do povo
escandinavo, tive que ter muita paciência para entendê-la, mas depois consegui
simplificar. A mitologia começa com uma grande nevasca que dura três anos e o
desespero leva a população ao desentendimento, evidenciando o primeiro sinal do
fim do mundo. Surge um lobo (Skoll) que devora o Sol, seu irmão Hati que devora
a Lua e o mundo mergulha em trevas. Três galos “cantam” chamando os deuses e os
mortos são despertados. Ocorrem grandes terremotos, o mar se agita com muita
violência e uma serpente colossal envenena o mar, a terra e o Céu. Uma
embarcação cheia de gigantes ruma para a batalha final e do sul vem outro
exército de gigantes para lutar contra os deuses. Depois de muitas batalhas,
com descrições de um filme de Hollywood, o mundo é incendiado, matando todas as
criaturas da Terra, que afunda no mar. Mas este ainda não é o final. No Céu
existe uma árvore especial, a Árvore do Mundo (Yggdrasil), que possui a
essência de todas as coisas vivas que existiram e existirão na Terra e, durante
a destruição do mundo, duas pessoas, Lift e Lifthrasir, conseguem sobreviver
escondidas nos galhos desta árvore. Alguns deuses também sobreviveram, assim,
um novo mundo espetacular surge do mar com o renascimento do Sol e da Lua, e
Lift e Lifthrasir iniciam a povoação deste mundo.
Eu li este resumo
para algumas pessoas que riram muito, então fiz uma comparação com o Apocalipse
bíblico com seus gafanhotos usando coroas e saindo do inferno para torturar
quem não tivesse o sinal de Deus na testa. Neste momento passei a entender os
lobos devorando o Sol ou serpentes gigantescas envenenando o mar e, utilizando
o texto de Sylvia Browne no livro “Fim
dos Tempos”, acredito que nós humanos nunca deixamos de tentar juntar, da
melhor maneira possível, os fragmentos das coisas inexplicáveis.
A alegoria na descrição do Apocalipse bíblico
é muito semelhante às outras metáforas contidas na Bíblia. A promessa de fim
com a salvação do crente é uma forma da Igreja manter seus fiéis sob a tutela,
impondo o medo e a espera eterna. Entretanto, acreditar que o que está descrito
na Bíblia vai acontecer é pura insanidade. É uma questão exclusivamente de
ponto de vista, porque somente podem acreditar nestas profecias aquele 1/3 da
população mundial que segue a Bíblia, a maioria da população mundial, os 2/3
restantes, nem estão aí para o que a Bíblia cita. Mesmo considerando todos
aqueles que seguem a Bíblia, segundo o descrito, não vão caber no Céu.
Edson
Perrone
ecperrone@gmail.com
Agradeço a Carlos Augusto Ferreira
pela leitura e sugestões ao artigo.
BROWNE,
S. Fim
dos Tempos. Estudo, previsões e profecias. São Paulo. Prumo. 2009
PERRONE,
E.C. 2012,
o ano das profecias. Vila Velha. Ed. Grafer. 2012.
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Eu discordo de alguns, mas está muito bom. Adoro seu blog.
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